Missão humanitária em reserva indígena marca vida de alunos
Estudantes de Medicina relatam como dias em Dourados (MS) mudaram percepções de vida e profissionais

“Transformador” é o melhor adjetivo para definir tudo o que Bruna Girotto Dornelas, Isadora Lobato de Mauro, Lucas Barbosa de Oliveira e Maria Fernanda Monteiro Guirado – alunos de Medicina da Unoeste – viveram durante uma missão humanitária na reserva indígena de Dourados, em Mato Grosso do Sul. De volta à Presidente Prudente, eles dizem que a experiência de realizar atendimentos que possibilitaram mais saúde e qualidade de vida permitiu uma “mudança como ser humano”.
Confira alguns relatos que eles trouxeram dessa experiência, vivida entre 11 e 18 de julho, durante a Missão Univida Dourados 2025, organizada pela Associação Humanitária Universitários em Defesa da Vida (Univida) e a Diocese de Jales.
Bruna Girotto Dornellas: “eles que nos moldaram e nos ajudaram a crescer como seres humanos”
“A missão revelou-se uma experiência incrível. Encontramos uma população carente e humilde, com muitas necessidades, mas que transborda simpatia, generosidade e amor. Fui especialmente tocada pelo carinho das crianças — uma conexão tão forte e sincera que me fez repensar, com mais profundidade, a especialidade médica que desejo seguir futuramente”, conta Bruna sobre a missão.
Ela também detalha como era a rotina na reserva. “Nossos dias começavam cedo, com a divisão das tarefas entre os grupos de voluntários. Às 5h da manhã, iniciávamos a preparação do café e, logo após, participávamos de uma breve oração conduzida por um dos grupos, marcando o início das atividades. As equipes se deslocavam para aldeias indígenas mais afastadas e escolas locais, onde eram realizados os atendimentos médicos, pedagógicos, odontológicos e fisioterapêuticos”.
Bruna relata que os atendimentos aconteciam em qualquer lugar disponível. “Salas de aula, pátios ou mesmo a céu aberto. Todos trabalhavam da melhor forma com os recursos disponíveis. O pessoal da odontologia, por exemplo, improvisava cuspideiras com caixinhas de leite; na medicina, usávamos criatividade para elaborar receitas ilustradas com carimbos de sol e lua, facilitando o entendimento de pacientes não alfabetizados. Quando as palavras faltavam, recorremos à mímica — sempre acompanhada de sorrisos, empatia e muita entrega”.
Um dos momentos mais especiais, segundo ela, era o almoço. “A refeição era partilhada entre voluntários e indígenas, nos unindo em um só ambiente e fortalecendo laços”.
A estudante de Medicina relata que também foram celebradas missas (com participação facultativa), e houve momentos de confraternização entre os voluntários. Uma oportunidade de reforçar conexões.
“Conheci pessoas e profissionais inspiradores, e criamos laços que pareciam vindos de outras vidas. Sou profundamente grata a cada um que conheci, pois essa experiência não teria sido a mesma sem eles”.
Isadora Lobato de Mauro: “fortaleceu ainda mais meu compromisso com a medicina socialmente engajada”
Para Isadora, participar desta missão a transformou dos pontos de vista humano e profissional.
“A iniciativa teve como objetivo principal prestar atendimento em saúde e levar doações às comunidades indígenas que vivem em situação de vulnerabilidade social e sanitária. Levamos alimentos, roupas, itens de higiene e medicamentos. Mais do que isso: levamos escuta, cuidado e presença”, conta.
Ela disse que pôde vivenciar de perto a realidade dessas populações, marcada por dificuldades de acesso a serviços básicos, como saúde, saneamento e educação.
“A experiência me fez refletir sobre o papel social da saúde e a importância de práticas profissionais humanizadas e culturalmente sensíveis. Atuar nesse contexto exigiu não apenas conhecimento técnico, mas empatia, escuta ativa e respeito às tradições e modos de vida das comunidades indígenas”, diz.
Na bagagem de volta, mais do que histórias. “Voltei com a certeza de que ações como essa não apenas beneficiam quem as recebe, mas também transformam profundamente quem participa. Essa vivência fortaleceu ainda mais meu compromisso com a medicina socialmente engajada e com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária”.
Lucas Barbosa de Oliveira: “Levarei tudo o que vivi e aprendi para toda a minha vida”
“No início da missão, o padre disse uma frase que me marcou profundamente: ‘ao tocarmos o próximo, também somos tocados’. Foi exatamente isso que vivi nesses dias. Em meio a tanta e vulnerabilidade social, prestamos atendimentos médicos à população, com recursos extremamente limitados. Ainda assim, era visível a gratidão das pessoas por serem ouvidas e cuidadas com respeito”.
Lucas também diz que todos tiveram a oportunidade de conhecer um pouco da cultura dos povos originários e ouvir histórias de vida — algo que enriqueceu ainda mais a experiência.
“Apesar de terem sido dias de trabalho intenso, essa missão foi extremamente significativa para mim. Aprendemos, na prática, a olhar para o próximo, a compreender suas dores e sofrimentos, e a oferecer um atendimento humanizado”.
O que foi a Missão Univida?
Segundo o projeto, a Univida se propõe a levar jovens universitários a “uma vivência extraordinária, colocando-os em contato com populações em risco social, na expectativa que respondam a esta experiência humanitária tornando-se profissionais conscientes de seu papel social”.
Este ano, foram cerca de 350 voluntários selecionados para as ações na reserva indígena de Dourados.
Os estudantes de Presidente Prudente integraram a seleção por meio de parceria do comitê universitário local da IFMSA (International Federation of Medical Students Associations), uma organização internacional com estudantes de medicina de todo o mundo.
Segundo a Prefeitura de Dourados, aproximadamente 20 mil indígenas das etnias Guarani, Kaiowá e Terena vivem nas aldeias Jaguapiru e Bororó, na reserva de Dourados, em uma área de 3,5 mil hectares.
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste