Dengue e imunidade de rebanho
Aedes aegypt
Dengue é uma arbovirose (doença transmitida por artrópodes-mosquitos), no Brasil principalmente pelo , cujo agente etiológico é o vírus da dengue, que possui quatro diferentes sorotipos. É a doença infecciosa que mais se espalha pelo mundo e hoje a Europa enfrenta um aumento crescente de pessoas infectadas. O mesmo aconteceu no Brasil, onde estados como o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, antes livres do vírus, hoje são endêmicos.
Em 2024 o Brasil vive a maior epidemia de dengue já registrada em sua história. Em 21 de junho o número de casos prováveis ultrapassou 6 milhões com 4.060 mortes e o Estado de São Paulo teve o maior número com 1.842.393 casos; o sexto estado em incidência, com 4.147 pessoas para cada 100.000 habitantes.
No entanto, diferente de 2023, onde Presidente Prudente foi a terceira cidade com maior incidência (38.198 casos) e com o maior número de mortos do País, em 2024 houve uma redução significativa com 543 casos até 19 de junho contra 36.084 casos no mesmo período de 2023; uma redução de quase 7000%.
Vários fatores podem ter contribuído para isso como ações mais efetivas da Vigilância Epidemiológica Municipal, redução das chuvas e maior conscientização da população. No entanto, um dos principais fatores foi estarmos provavelmente alcançando a chamada “imunidade de rebanho”, um termo muito conhecido e discutido na pandemia de COVID-19.
Embora não haja um consenso entre os cientistas, podemos dizer que a imunidade de rebanho é alcançada quando determinada parcela da população se torna imune a uma doença, ou seja, desenvolvem anticorpos contra o agente causador. As pessoas imunizadas acabam agindo como uma barreira, protegendo toda a população, mesmo aqueles que ainda não são imunes.
Os chamados “anticorpos neutralizantes” podem ser obtidos pela infecção primária “infecção pelo vírus da dengue” ou pela vacinação. No entanto, embora o Brasil seja o país que mais notifica pacientes com dengue, há um grande número de pessoas infectadas que não entram nas estatísticas.
Em um estudo recente, em Salvador (BA), para cada 20 pacientes com dengue identificados laboratorialmente, apenas um foi notificado ao SINAN. Se somarmos as pessoas notificadas em Presidente Prudente entre 2015 e 2023 temos 88.717 pessoas; se considerarmos apenas para cada pessoa notificada uma não notificado temos cerca de 160.000 pessoas infectadas. Além disso, um número considerável de pessoas foi vacinado para dengue desde 2015.
Esses dados representam provavelmente 70% ou mais da população imunizada, um número muito próximo daquele necessário para a imunização de rebanho (80%). No entanto, um grande perigo ainda persiste uma vez que todos esses indivíduos foram infectados pelos sorotipos 1 e 2, porém há um grande risco da chegada dos sorotipos 3 e 4 a região oeste de São Paulo. Caso isso aconteça a “imunidade de rebanho” poderia ser perdida. Essa questão será resolvida apenas quando uma grande parcela da população for vacinada, uma vez que a vacina é capaz de imunizar de maneira satisfatória para os quatro sorotipos.
Luiz Euribel Prestes Carneiro é médico infectologista, doutor em Imunologia e professor pesquisador da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), no curso de Medicina e programas de mestrados e doutorado.