A Engenharia da Educação
Tudo parece uma questão de encaixe. Primeiramente, você tenta alinhar os números mais óbvios. Após isso, procura quais são as opções que se acomodam no vazio daquela casa. Cruzam-se alternativas, possibilidades. Assim é o sudoku, que traduz em seu nome a expressão “os números têm que ser únicos”. Um passatempo. Logo penso sobre essa forma tão irreverente que escolhi para estudar matemática diante do temido vestibular. Um professor foi quem me apresentou. Não somente seria ele o suficiente para alinhar os estudos, mas fazia parte deles.
Naquele final da década de 2010, com a febre do sudoku, meu professor desalinhou o raciocínio lógico – tirou ele do tradicional. Interessante saber que um dos meus primeiros contatos com as metodologias inovadoras em educação viera das ciências exatas. Somos realmente pragmáticos e tradicionais nessa área. Fugir desse caminho, assemelha-se a um insulto (não mais). Muitos que, como eu, iniciaram seus estudos em matemática no século passado, conseguem conciliar a figura de um professor de matemática a alguém sério e metódico.
Não precisa ir longe, mesmo em contínua formação docente ainda insisto em textos que sejam proporcionais em número de linhas e parágrafos dentro de um raciocínio. A nossa cabeça pensa assim. E, diante dessa introdução, lhe digo: estamos de mudança.
Não há mais espaço para uma educação quadrada e tradicional. Sem perder a lógica, a educação na área de exatas tem que mudar. Ela vai mudar. Há novas regras. Portanto, precisa mudar. Sei que já faz um tempo, mas, em 2019, foi publicada a mais recente Diretriz Curricular Nacional para as Engenharias. Artigo 14, parágrafo primeiro, lá fala que nós, professores das engenharias, devemos nos aperfeiçoar, estabelecendo em nosso cotidiano escolar estratégias de ensino ativas, pautadas em práticas interdisciplinares.
Já no processo de implantação desses novos métodos, entre idas e vindas da questão “será que dá certo?”, veio a pandemia. Num processo extremamente doloroso e de características peculiares, encontrou-se, diante da adversidade, o momento de transformar. Foi preciso. Encontros, jornadas, reuniões – tudo de forma virtual – não parecia tão real e, ao mesmo tempo, vivemos à flor da pele. Câmeras ligadas ou desligadas, microfones abertos ou fechados, agonia em falar aos ventos e não obter respostas... Fomos nos encaixando e as cruzadas estão se solucionando.
Assim foi que vimos que era possível. Logo quando respiramos, conseguimos entender que não precisávamos estar em uma educação bancária, é possível fugir às regras – é legal fugir às regras. Hoje, somos mais do que simples professores, somos orientadores da educação. Já conseguimos entender que há um algo a mais nas metodologias inovadoras. Ainda, em pequenos passos, nos adaptando e as adaptando. Claro, não fugiremos dos nossos quadrados lógicos, mas agora compartilharemos a nossa forma de ver o mundo.
Beatriz de Mello Massimino Rotta é engenheira civil e professora mestre das Faculdades de Engenharias e Arquitetura e Urbanismo, e de Ciências, Letras e Educação, além da Educação a Distância da Unoeste