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Agora é assim. A maior parte das notícias escritas na Internet é precedida do “tempo médio de leitura”. Vocês já se perguntaram o motivo? Lembro-me de quando os noticiários de TV por assinatura começaram a mostrar um relógio no canto da tela, por volta do final dos anos 90, começo dos anos 2000. Não há tempo para mais nada. Tudo é muito corrido, tudo é para o agora. E isso vem afetando também o tempo de leitura das pessoas.
Professores se queixando de que os “alunos não leem mais...”, enquanto também se esquecem de que eles próprios estão sem tempo para leituras densas. O imediatismo, dentre outros fatores, está deixando as pessoas cada vez mais ansiosas, além de se sentirem cada vez mais cobradas pois, além da falta de tempo, ainda há a questão da perfeição. Não podemos errar.
A questão dos erros também é outro sinal da pós-modernidade, onde as pessoas se cobram tanto, e exigem tanto dos outros, que não há tempo sequer para o erro. Tudo precisa ser perfeito, exato, rápido, e correto. A situação é tão exigente que o ser humano está estendendo o conceito de perfeição a si mesmo de tal forma que, ao errar, ele acha que fracassou como pessoa.
É sempre bom lembrar que o que erramos é aquilo que fazemos, pensamos, e falamos, mas não “como pessoa na totalidade”. O que fazemos é parte de nós, e isso não é a mesma coisa que a nossa identidade. Ao confundirmos o “erro de algo que fiz” com “erro de quem eu sou”, estamos nos entregando a uma vida com baixa qualidade psicológica e emocional, com alta exigência a si mesmo. E, como consequência, estamos exigindo cada vez mais dos outros, sem tolerância ou espaço para as frustrações.
Essa alta exigência a si e aos outros diminui cada vez mais a aceitação daquilo que “é humano”. Se a irritação com os erros dos outros estiver muito alta, é necessário avaliar o quanto você exige de si mesmo, e o quanto é capaz de perdoar e superar os próprios erros. O significado de “errar” precisa ser repensado e separado do conceito de identidade própria, de fracasso pessoal. Isso é muito pesado. Só erra quem faz, e só faz algo quem está aberto a aprender com os erros. Não com os erros, melhor dizendo, mas com o conserto e a superação deles.
Já com relação ao tempo, este é prioridade no sentido de que é necessário, inclusive, priorizar aquilo que é realmente importante, uma vez que também o mundo nos inunda de informações e possibilidades todos os dias.
Precisamos do relógio no canto da tela? Precisamos do marcador de tempo de leitura realmente? Talvez. Mas, mais do que a pressa, precisamos alterar o significado de “erro” e do próprio “tempo”. Afinal, se tempo é uma questão de prioridade, e não temos tempo para nada, qual está sendo a sua prioridade na vida?
Ana Paula Domeneghetti Parizoto Fabrin é Mestre em Ciências pelo ITA, docente e psicóloga no Serviço Universitário de Apoio Psicopedagógico da Unoeste.