Hidrologia Aplicada à Comunidade
Há pouco nos despedimos de nossa estação chuvosa e é só olharmos para o horizonte que percebemos que ela tarda a voltar em Presidente Prudente. Contudo, apesar das enchentes ocasionadas pelos eventos de precipitação no Parque do Povo serem sazonais, elas não caem em esquecimento, são motivos de chacota e, muitas vezes, de indignação.
Como professora de Hidrologia e de Mecânica dos Solos no curso de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharias e Arquitetura e Urbanismo de Presidente Prudente, oriento estudantes na produção de pesquisas acadêmicas onde procuramos os “porquês” das tragédias ocasionadas durante o período de altas precipitações.
Ano passado publicamos um artigo sobre o evento ocorrido em 2022 no município de Petrópolis (RJ). Neste ano estamos realizando uma pesquisa acerca dos deslizamentos de 2023 ocorridos em São Sebastião (SP) e, infelizmente, um próximo estudo será acerca dos eventos que acometem o estado do Rio Grande do Sul nestas últimas semanas.
Paralelamente, voltado para o município de Presidente Prudente, publicamos um artigo que caracterizou a bacia hidrográfica de três áreas verdes relevantes para a nossa cidade, incluindo a que envolve o Parque do Povo. Em sua caracterização, o coeficiente de compacidade indicou uma alta propensão a grandes enchentes. Já o de forma, indicou uma tendência mediana. Isso significa que o formato dessa área verde facilita no surgimento de enchentes.
Porém, outros fatores também podem contribuir para o aumento dos eventos de cheias, como a própria impermeabilização das superfícies da bacia, que impedem que a água infiltre no solo e aumente o escoamento superficial, a falta de manutenção das galerias e canais ou, ainda, o entupimento dos dispositivos de drenagem que são gerados pelo acúmulo de resíduos sólidos arrastados pela água da chuva.
Dos fatores apresentados, vê-se que parcelas desse problema podem ser minimizadas por meio da própria conscientização da população, tanto no atendimento à Lei Complementar 231/2018, onde são determinadas as taxas de permeabilidade mínima para cada tipo de edificação e suas respectivas zonas, ou mesmo na disposição adequada dos seus resíduos sólidos.
Em vista disso, o Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de Engenharia Civil propôs, em 2021, que houvesse a incorporação da disciplina Hidrologia Aplicada em sua matriz curricular. A ideia parte da resolução nº 7 da Câmara de Ensino Superior, do Conselho Nacional de Educação, publicada em 2018, onde são apresentadas as diretrizes para a inclusão de Extensão na Educação Superior. Tal resolução tem o intuito de promover uma interação transformadora entre a universidade e a sociedade.
Desta forma, a proposta da disciplina em caráter extensionista é provocar junto à sociedade uma reflexão acerca dos eventos de chuva, suas consequentes cheias, além dos mais diversos problemas associados a eles. Tendo início neste ano, e com recorrência anual, pode-se esperar uma maior socialização dos conteúdos que abrangem o manejo de águas pluviais, transformando-nos em uma comunidade consciente de sua segurança hídrica.
Beatriz de Mello Massimino Rotta é engenheira civil, professora mestre das Faculdades de Engenharias e Arquitetura e Urbanismo da Unoeste e coordenadora do curso de Engenharia Civil da mesma universidade.