Recessão global e retração do consumo
Crise sempre existiu. O que está evidente na atualidade é que ela impacta mais e age mais rápido. Mas porque hoje parece ser mais dramática do que antes? Bem, pelo menos era assim quando éramos jovens.
Há uma diferença importante: no século XX, estávamos numa era industrial e como a concentração industrial era situada distante da maioria das cidades, a crise ia mais devagar. Se pensarmos na crise de 1929, demorou algumas semanas para chegar aqui, no nível do cidadão comum.
Entretanto, na segunda metade do século XX, com uma economia mais integrada, com maior integração global, passamos por crises bem fortes, mas que ainda assim provocavam um atraso no bolso da pessoa comum. Porém, os grandes centros recebiam o impacto de forma muito rápida.
Agora na terceira década do século XXI, com uma sociedade totalmente conectada, baseada na economia de serviços, isto é, onde predomina o comércio e prestação de serviços, como principal motor da economia, os impactos das oscilações afetam de modo quase instantâneo.
Neste ponto que é preciso um cuidado redobrado. Ao receber informações de forma imediata, também acabamos por reagir de forma imediata. Se há uma crise e está pegando as pessoas comuns do outro lado do mundo, eu preciso me precaver e agir mais preventivamente, para não sofrer o mesmo baque.
E aí começa o desafio do mercado. As primeiras vítimas da redução do consumo são as empresas de comércio, visto que trabalham com margens baixas, para serem competitivas. Outro segmento afetado são os serviços de streaming, onde reduzo as opções de acesso a lazer via digital. Bares e restaurantes idem. De repente, a pessoa comum passa a reagir instintivamente em reduzir ao essencial seu consumo.
O que era antes uma reação de cima para baixo, agora parte de baixo para cima. O que na crise de 2008 foi um efeito dominó no nível das grandes organizações em direção às menores, agora é a pulverização da base de consumo, extinguindo parcela significativa de mercado instantaneamente, sem que as empresas, especialmente as pequenas, possam fazer muita coisa.
Mais do que nunca, fazer caixa é a palavra da ordem do dia, como disse Ram Charan em 2008. Seja em casa, seja nas empresas, a onipresença da crise global é uma realidade.
Wilson Roberto Lussari é doutor e coordenador dos cursos de Gestão Comercial e Comércio Exterior do Núcleo de Educação a Distância da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista)