Os agroquímicos e a saúde respiratória
Quando se pensa em saúde respiratória, diversas doenças emergem na memória: asma, pneumonia e as doenças pulmonares obstrutivas crônicas, tais como enfisema pulmonar e bronquite crônica. No entanto, os agroquímicos têm se revelado como poluentes de risco potencial à saúde humana, juntamente com o material particulado encontrado na poluição atmosférica.
Com os avanços das culturas agrícolas, os agroquímicos têm ocupado um grande espaço no mercado brasileiro. No estado de São Paulo a cana-de-açúcar vem avançado em diversas regiões. Desta forma, a quantidade de agroquímicos necessários para a manutenção de uma boa lavoura e melhor produtividade tem sido observada com mais atenção.
O manejo da utilização dos herbicidas agrícolas, sejam eles via direta pela aplicação feita pelo trabalhador rural ou através da pulverização aérea realizada por aviões, nos faz refletir sobre a saúde ocupacional e da população. Nesta afirmação questiona-se: existe uma quantidade segura de utilização de herbicidas para a saúde respiratória?
Para que possamos entender a necessidade de estudos voltados à saúde respiratória é importante salientar que as vias aéreas são a primeira porta de entrada de agentes infecciosos, poluentes atmosféricos e corpos estranhos. Em estudos realizados em modelos animais pós exposição aguda ao herbicida ácido 2,4 – Diclorofenoxiacético, foram verificadas alterações no sangue, bem como aumento de células inflamatórias nas vias aéreas superiores, quando expostos a altas doses de herbicida. Cabe salientar que, em doses menores, também foram observadas tais alterações, porém em menor quantidade.
Outro herbicida muito utilizado na atualidade é o glifosato. É importante ressaltar a sua proibição em alguns países desenvolvidos como a França, por exemplo. No entanto, seu uso é liberado com restrições pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Neste contexto, inúmeros estudos vêm sendo executados com a finalidade de entendimento sobre os possíveis problemas na saúde humana.
No sistema respiratório, observa-se um grande número de lesões em vias aéreas superiores e inferiores em diferentes tipos de doses aplicadas, desde baixas até doses mais elevadas, o que nos faz refletir sobre qual o nível de administração pode ser considerado seguro para os trabalhadores que utilizam este tipo de agroquímico.
Como podemos perceber, em diferentes tipos de herbicidas as lesões são evidentes, independente da dose administrada. Não deve ser atoa que estejamos vivenciando a inclusão de práticas mais sustentáveis de lavouras para menor risco dos trabalhadores e consumidores finais.
Renata Calciolari Rossi é pós doutora em Anatomia Patológica pela USP e docente do curso de Medicina e da Pós-graduação Stricto Sensu em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional e Ciências da Saúde da Unoeste.