Suicídio e Vazio Existencial
“Assunto só para setembro?”,
Há quase dois anos, mais precisamente no dia 10 de setembro de 2020, escrevi para este mesmo veículo um artigo intitulado com informações e orientações sobre a prevenção do suicídio. Hoje gostaria de falar sobre questões que também permeiam o tema do suicídio: trata-se do “vazio existencial”.
Sem querer ter a ousadia de tentar esgotar um tema tão complexo e amplo, e nem tentar levar a uma reflexão extremamente filosófica ou histórica desta questão, a minha intenção é levantar alguma reflexão sobre esse tal de “vazio”.
Por também ser psicóloga clínica, percebo que, na pós-modernidade em que vivemos, esse vazio está sendo verbalizado pelas pessoas como uma “angústia crônica”, uma “solidão incessante”, que “nunca passa”. Muitas são as explicações científicas para esse fenômeno psíquico. Essa angústia, muitas vezes, pode estar sinalizando um problema grave de identidade, de personalidade, e autoestima.
Mesmo a pessoa imersa em uma torcida de jogo de futebol, cercada de pessoas por todos os lados, ainda assim pode estar sofrendo da mesma “solidão”. Não se trata de estar acompanhado, mas sim de uma solidão que é psíquica, um esvaziamento da própria identidade. Esse sentimento crônico e terrivelmente doloroso está cada vez mais presente em nossa sociedade, devido muito ao excesso de comparação, competição e auto cobrança que hoje estamos nos sujeitando.
Redes sociais têm muito a acrescentar em termos de conteúdo para as pessoas. Mas se alguém a utilizá-la somente para checar a vida alheia, a fim de se sentir melhor com a sua própria, ou ainda para ficar se comparando com um mundo virtual falso e não condizente com a realidade, seria pedir para deprimir ou ficar cronicamente ansioso. Isto é porque as pessoas comparam a vida “boa” dos outros, exposta nas redes sociais e muitas vezes falsa, com a sua realidade “ruim”.
Difícil se sentir bem consigo mesmo após uma “stalkeada” na vida dos outros, concorda? O vazio pode, inclusive, decorrer disso também. Se uma pessoa ficar se comparando, e para piorar, ficar se anulando, deixando de ser quem realmente é, sufocando o que mais gosta de fazer, tudo para evitar a rejeição do outro, daí sim instalamos um enorme vazio existencial.
A pessoa está vivendo na “sombra da existência do outro”, está vivendo por causa do outro, e não apesar do outro, ao lado do outro. Este é o pior sofrimento, pois anula completamente a identidade da própria pessoa, por medo de uma rejeição que ela não controla.
Quando o vazio aparece, aparece também uma sensação dolorosa de inexistência, culminando em fator de risco para o suicídio. Neste ponto de vista, o suicídio pode aparecer como concretização daquilo que já não existe: você, neste caso.
Para prevenir o suicídio, pense no resgate da identidade como pessoa, no propósito de vida, no sentido de viver. E isso existe. Porém, é necessário resgatar a pessoa que você é, e ficar ao lado das pessoas por escolha, não por necessidade. Fará toda a diferença na sua vida, das quais sim, vale a pena viver.
Ana Paula Domeneghetti Parizoto Fabrin é Mestre em Ciências pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), docente da UNOESTE (Universidade do Oeste Paulista) desde 2001; e psicóloga no Serviço Universitário de Apoio Psicopedagógico da mesma instituição