O estado refém de si mesmo
Um ano atrás, escrevi aqui o texto “Estado em desespero no século XXI”. Passado este curto espaço de tempo, voltamos a reflexão em comprovar o que foi dito. Mas o raciocínio é por um caminho bem atual, na recente internacionalização da discussão ideológica e política entre o proprietário de uma rede social e uma alta corte (ou parte dela), colocando uma plataforma de rede social como pivô de uma crise institucional, que está se escalando para uma disputa na esfera política internacional.
O que isto mostra? Que quando assumimos que vivemos numa sociedade hiperconectada, os poderes nacionais sofrem a resistência de uma pressão social global. Numa situação natural, o cidadão global, pertencente a uma sociedade global e plural, não aceita a imposição de normas que restrinjam o fluxo das ideias e informações. Aquilo que Moran dizia como cidadania terrena.
Sendo assim, o controle social passa pelo filtro global da sociedade e não mais do Estado nacional. Estamos apenas no começo desta jornada, onde as tentativas de derrubar fronteiras e caminhar para a integração regional e global, exemplificadas pela União Europeia e Mercosul, ainda são muito pouco para responder às demandas desta sociedade.
O modelo de Estado vigente, ainda está arraigado no século XIX, em plena Revolução Industrial. Uma organização burocrática por excelência, que se recusa a mudar e modernizar sua cultura.
Isto impõe a criação de uma cultura estatal global, que contemple as demandas das respectivas sociedades locais e regionais. Um Estado enxuto e ágil, com uso intensivo de Inteligência Artificial, que seja eficiente no atendimento das demandas do cidadão terreno, onde quer que ele esteja no mundo, e que esteja integrado com toda burocracia global.
Devaneio? Talvez. Mas é inevitável. A resistência do Estado em atender ao cidadão global, transforma sua estrutura em um aparato burocrático hermético e xenófobo, que descamba para o isolamento global, perseguindo a autopreservação. Para capilarizar este controle, precisa mobilizar recursos imensos para o controle social.
O resultado inevitável já é conhecido a décadas. Já dizia o comentarista econômico Joelmir Beting: “o capitalismo é um animal arisco e selvagem, precisa de pastagem calma e segura para ficar”. Até aqui, pensava-se apenas no capital de investimento, em que a fuga de investimentos é o termômetro de um país. Mas no século XXI está se falando em capital humano (talento, expertise, etc.) e aí ocorre uma verdadeira diáspora de cérebros e recursos humanos de forma irreversível.
O Estado do século XIX teima em sobrepujar os fatos. Quem mandou turbinar a internet e distribuir smartphones? Quem está no poder sonha com 1984. Entretanto, é uma obra de ficção. O mundo real pertence a pessoas reais. A realidade vai se impor, mesmo que leve tempo.
Tempo? Uma informação que leva uma eternidade de 15 segundos para chegar ao destinatário, deixe o povo em alvoroço. Lembremos: o problema do Estado não está nas redes sociais; está nos bilhões de pessoas que usam elas.
Wilson Roberto Lussari é doutor e coordenador de curso de Gestão Comercial EAD e professor do Núcleo de Educação a Distância (Nead) da Unoeste.