Algodão: natural e sustentável
As fibras têxteis utilizadas pela indústria podem ser de origem natural, artificial ou sintética. As fibras naturais mais utilizadas são o algodão, o linho, a lã e a seda. Já as fibras artificiais, como a viscose, são desenvolvidas a partir de fontes naturais, porém passando por laboratório. As fibras sintéticas são criadas pelo homem utilizando matéria-prima de produtos químicos, normalmente o petróleo, e alguns exemplos são o poliéster, poliamida e elastano.
O consumo per cápita (por habitante) de fibras têxteis aumentou 34% de 1970 até 2019, porém nesse mesmo período observamos uma redução da participação de mercado das fibras naturais, de 78 para 47%. Dentre as fibras naturais, o algodão representa hoje 97% de tudo que é consumido, portanto cerca de 46% de todas as fibras consumidas pela indústria têxtil brasileira utiliza a fibra de algodão. A qualidade da fibra sintética pode ser manipulada (comprimento, diâmetro, resistência), enquanto a qualidade da fibra do algodão precisa ser construída na lavoura e depende muito do clima e da qualidade do solo.
O Brasil, 4º maior produtor e 2º maior exportador mundial, consumiu 700 mil toneladas de fibra de algodão em 2021, enquanto o volume exportado foi de 2,1 milhões de toneladas. Além de ser uma fibra natural, o que reduz a queima de combustíveis fósseis para fabricação de fibras sintéticas, durante a produção do algodão as folhas realizam o processo da fotossíntese, que é a retirada do CO2 da atmosfera. E isso contribui para redução do aquecimento global, pois o carbono (C) é retirado da atmosfera e fica armazenado na matéria orgânica do solo.
Um estudo recente mostrou que um hectare de algodão (equivalente a um campo de futebol) pode retirar o equivalente a 4 toneladas por hectare de carbono da atmosfera, considerando uma lavoura de produtividade de 1600 kg ha-1 de fibra (pouco inferior à média brasileira).
A produção de algodão exige aplicação de fertilizantes e de defensivos agrícolas para controle de pragas e doenças, além de combustível para movimentação de tratores, pulverizadores e colhedeiras, e isso gera uma emissão de cerca de 2,6 toneladas por hectare, o que resulta ainda num saldo negativo de pelo menos 1,4 toneladas por hectare de carbono, ou seja, o cultivo do algodão retira carbono da atmosfera.
Se considerarmos que um veículo de passeio emite 717 kg de C por ano, significa que um hectare de algodão pode zerar a emissão de 2 veículos. Portanto, consumir algodão, além de ser muito mais confortável, é mais sustentável pois ajuda a preservação do meio ambiente, seja por evitar o consumo de combustíveis fósseis ou por contribuir à retirada de carbono da atmosfera.
A Unoeste é sede do Grupo de Estudos do Algodão (GEA), fundado em 2015. O GEA é formado por alunos dos cursos de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado) da Unoeste e conta com a colaboração de pesquisadores externos. Sua principal missão é intensificar os estudos com a cultura do algodão, com foco no aumento da produtividade e da qualidade da fibra produzida.
Fábio Rafael Echer é doutor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Unoeste; Líder do Grupo de Estudos do Algodão e membro da Associação Internacional dos Pesquisadores do Algodão (ICRA).