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Foto: Matheus Teixeira
Luciane Cachefo Ribeiro, coordenadora de Letras, diz que curso apresenta ortografia nova e também anterior
Em 2012 acaba o período de quatro anos de adaptação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Quer dizer que a partir de 1º de janeiro de 2013 a “ideia” perde definitivamente o acento agudo, o “pinguim” fica sem o trema e os avaliadores de provas, vestibulares e concursos públicos invalidarão a ortografia antiga. Para não fazer feio, a sugestão é possuir um dicionário atualizado com a nova ortografia ou pelo menos um miniguia.
A determinação de não ser mais possível compactuar de escrita nova e escrita anterior vem pelo decreto federal 6.583/08. Segundo o Ministério da Educação (MEC), a unificação da Língua Portuguesa acarretou em mudança de 0,8% nos vocábulos brasileiros. As alterações nessas palavras, iniciadas em 2009, já foram absorvidas pela imprensa e pelas editoras, de acordo com José Carlos de Azeredo, membro da Comissão para Definição da Política de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip). “Mas a relevância e o impacto dessa influência são variáveis: pessoas que lidam profissionalmente com a escrita, professores e estudantes são mais afetados”.
Quanto à população em geral, ele não sabe precisar se houve total assimilação. “Estou estranhando que as autoridades e a mídia em geral ainda não tenham dado início a uma campanha de alerta à sociedade quanto ao fim da coexistência das duas ortografias em 31 de dezembro de 2012”, declara Azeredo, também pós-doutor em Linguística Aplicada e professor adjunto de Língua Portuguesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Formado em Letras pela Unoeste em 2011, Lucas Sotocorno da Silva confessa que teve dificuldades em compreender a nova ortografia. Aliás, ele ingressou na graduação em 2009, bem no início da transformação. “Alguns vícios são difíceis de abandonar, estamos acostumados a uma convenção de escrita. Exemplo disso é a acentuação de ditongos abertos das paroxítonas [jiboia e paranoia, por exemplo], que perderam os acentos agudos”.
Passados três anos e meio do cumprimento do decreto, os acadêmicos, assim como o egresso Silva, estão adaptados. “Houve grande dificuldade de aceitação, mas atualmente os alunos estão internalizando as novas regras de maneira natural”, aponta a coordenadora de Letras da Unoeste, Luciane Cachefo Ribeiro. É fácil compreender porque a transição tem se dado naturalmente para os universitários. Conforme a docente, o curso superior da Unoeste “trabalha a Língua desde a origem, então a modificação acontece em momentos próprios”. Segundo ela, nas aulas aplica-se o acordo e o especifica, mostrando a nova ortografia e a antiga.
Restam dúvidas – É inegável que as maiores dificuldades quanto ao novo acordo dizem respeito ao hífen, “especialmente porque a abrangência de seu emprego ficou muito reduzida”, explica Azeredo. Na visão de Silva, outra falta de conhecimento sobre o que mudou vem com a preguiça de se buscar detalhes acerca das regras. “O que eu costumava ouvir das pessoas é que só em 2012 elas procurariam informações sobre o acordo”, revela o licenciado em Letras.
Na ponta da Língua
> O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado em Lisboa (Portugal), em 16 de dezembro de 1990. Entrou em vigor internacional em 1º de janeiro de 2007, mas os efeitos tiveram validade a partir de 2009.
> O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa envolve os estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
> Desde 2010 é obrigatório que os livros escolares distribuídos pelo MEC venham editados apenas na nova ortografia.
> O Brasil já passou por outras mudanças na ortografia, respectivamente em 1943 e 1971.
Como é agora
Cai acento diferencial, então “para” tem escrita única tanto para a preposição quanto para a conjugação do verbo “parar”. Casos semelhantes: pelo, pera e polo. As exceções são: por/pôr (preposição/verbo), pode/pôde (presente/pretérito), tem/têm (singular/ plural) e vem/vêm (singular/plural). Os casos facultativos são: forma/fôrma e sede/sêde.
K, W e Y finalmente pertencem ao alfabeto, agora com 26 letras.
Sem acento: em ditongos abertos nas paroxítonas, como assembleia, Coreia e joia; em hiatos, como enjoo, preveem e voo; e em I ou U após ditongo (só nas paroxítonas), como feiura e Sauipe.
Trema é abolido, mas as palavras permanecem com a mesma pronúncia. Exemplos: cinquenta e pinguim. Nomes próprios permanecem com o sinal gráfico.
Uso do hífen
Ciber, hiper, inter e super: quando a segunda palavra tem início com H ou R, há hífen. Exemplos: ciber-revolução, hiper-ramificado e super-homem. Observação: para os prefixos “sob” e “sub” vale a mesma regra, mas também acrescenta-se hífen quando a palavra posterior começar com B.
Regra geral: emprega-se hífen quando a segunda palavra inicia com vogal igual à vogal da primeira palavra; ou quando a seguinte começa com H: geo-histórico e micro-ondas, por exemplo. Observação: aos prefixos “além”, “aquém”, “ex”, “recém”, “sem” e “vice” sempre usa-se o hífen.
R e S dobrados: se ao aplicar-se a regra geral, a segunda palavra tem início com R ou S, duplica-se essa letra para a grafia ficar semelhante à pronúncia. Exemplos: contrarrevolução, minissaia e portarretrato.
Fontes: Decretos federais 6.583/08 e 6.586/08
Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste