Depois de 35 anos, o pintor Marcos Roberto Bueno, 50, resolveu voltar a estudar. A dedicação foi tanta que, em alguns meses, concluiu os ensinos fundamental e médio, por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA). E a sua sede pelo conhecimento não para por aí, em 2017, prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que lhe possibilitou conquistar uma vaga de bolsista pelo Programa Universidade para Todos (Prouni), para cursar o bacharelado em Química na Unoeste. É justamente esse desejo de aprender constantemente que motivou esse estudante do 1º termo a participar do 10º Ciclo de Palestras do Profissional da Área da Química, promovido pela graduação. A programação teve início na terça-feira (28) e será finalizada hoje (31).
Na noite de ontem (30), Bueno e os demais integrantes do evento conheceram mais sobre a química medicinal, síntese orgânica e modelagem molecular. Quem ministrou a palestra foi o Dr. Nailton Monteiro do Nascimento Júnior, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara (SP). Segundo o pesquisador, a química medicinal explora ferramentas da medicina e de conceitos químicos para buscar substâncias com atividades biológicas, que podem resultar em princípios ativos que são chamados por fármacos. “Uma vez que eles são combinados com outras substancias conhecidas é possível ter uma formulação que resulta em um medicamento”, diz.
Líder do Laboratório de Química Medicinal, Síntese Orgânica e Modelagem Molecular (LaQMedSOMM) da Unesp de Araraquara, Nascimento Júnior explica que a química medicinal é muito ampla. “Por meio dessa ciência desenvolvemos desde contratastes, que são utilizados em exames de imagem, princípios ativos para medicamentos humanos e veterinários, até a formulação das substâncias bioativas dos defensivos agrícolas”.
Dentre as pesquisas que desenvolve nesse ambiente, ele cita projetos para a dependência da nicotina, Doença de Alzheimer, obesidade, câncer de mama e leishmaniose. “Trabalhamos no início de um projeto de química medicinal, onde estruturamos o estudo por meio de ferramentas computacionais para saber quais substâncias são mais interessantes que devem ser sintetizadas na bancada do laboratório”. Pontua que na sequência é feita a purificação dessas substâncias e a avaliação em relação à sua atividade biológica, para saber se ela é realmente relevante. “Depois disso, contamos com outros colaboradores para a avaliação da toxicidade, da estabilidade em relação ao metabolismo humano ou animal e assim por diante”.
Nascimento Júnior destaca que todo esse processo é longo e complexo, podendo durar entre 8 e 15 anos, dependendo da substância. “A química medicinal ainda é muito incipiente. São poucos os grupos no Brasil que trabalham com essa área”. Para quem almeja atuar nesse segmento ele expõe que, em primeiro lugar, o profissional precisa estar ciente de que a multidisciplinaridade é fundamental. “Para se desenvolver uma substância que tem atividade biológica e pode ser uma futura candidata a fármaco, não basta entender só a química, é preciso compreender um pouco de informática, de biologia e farmacologia. Existe também a necessidade de estar fortemente embasado nos aspectos ligados à propriedade intelectual e assuntos regulatórios, pois é preciso proteger a ideia para que outros não a explorarem comercialmente, antes de você”.
Ciclo de palestras – De acordo com a coordenadora dos cursos de licenciatura e bacharelado em Química da Unoeste, Dra. Patricia Alexandra Antunes, essa iniciativa traz atividades que envolvem a formação do acadêmico e, também do egresso, já que as ações são abertas aos ex-alunos das graduações. “Nesta edição, dividimos o evento em duas partes: a primeira trouxe abordagens ligadas à formação do profissional já visando a sua atuação no contexto da Revolução da Indústria 4.0 e, também, aspectos voltados à importância do network e do intercâmbio internacional. Já a segunda parte, planejamos assuntos específicos como a palestra do Nascimento Júnior e as oficinais”.
Jéssica Taeko Sanches Kohara De Angeli, 26, é egressa da turma de 2013 do bacharelado em Química. Atualmente, a jovem faz mestrado em Ciência Ambiental no Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEA-USP), na capital paulista. “O que aprendi na graduação tive a oportunidade de utilizar em empregos anteriores e, agora, nessa nova fase, muitos dos conhecimentos são empregados na parte das análises químicas. Quero conciliar a química para atuar na parte ambiental”. Sobre a participação no evento, conta que aproveitou o momento para rever amigos e professores. “Momentos como esses podem trazer novas informações e experiências que posso agregar à minha profissão”.